O Dicionário Oxford escolhe, a cada ano, a palavra que dominou o debate internacional nos doze meses do período em questão. A de 2019 foi uma sentença: “Mudança climática”— que o jornal britânico The Guardian traduziu para “Emergência climática” como forma de realçar o motivo pelo qual a frase foi tão procurada, ouvida ou falada mundo afora no ano que passou.

Não é difícil adivinhar qual será a palavra de 2020. Mas bem que poderia ser, novamente, um enunciado: “Stay home”. Em bom português, “fique em casa”, advertência que um roteiro digno de cinema catástrofe inseriu em nossas vidas pacatas, até então absorvidas somente pelo absurdo de nossa sociedade partida — para adaptar uma expressão de Zuenir Ventura.

Só que viver dias excepcionais não é coisa simples. Na medida em que o que parecia o mais longo dos domingos se impunha como um convidado indesejável e as cenas de distopia davam lugar a uma precária normalidade, o medo da pandemia foi sendo substituído por um temor mais palpável e imediato: o de perder o emprego e a renda.

E muitos, de fato, perderam. Para esses, poupados talvez dos efeitos mais funestos da pandemia mas debilitados em sua capacidade de prover as famílias, não restou alternativa senão arriscar-se ir às ruas. Mas como obter meios de subsistir se o número de desempregados compete com o de óbitos e não há para quem vender em boa parcela do comércio?

Carlinhos, Cezinha e André: personagens de primeira hora do Retratos

 

Em momentos assim, outra palavra necessita se ouvir: solidariedade. E todo esse preâmbulo nos traz até uma conversa de dias atrás — devidamente intermediada pelo computador — quando eu e Thiago discutíamos toda essa dificuldade e como o Retratos de Porto Belo poderia ajudar.

Thiago formulou a proposta: convidar o Música Orgânica para realizar uma live — formato de divulgação que os músicos adotaram para minimizar o impacto da crise no meio cultural — para arrecadar donativos e doá-los a famílias desassistidas.

A opção pelo Música Orgânica, considerando que há outros talentos na cidade capazes apoiar uma iniciativa dessas, se deu pela conexão que existe entre os dois projetos. Mais ainda, entre todos os envolvidos.

Conheci o Thiago e a Isa lá pelo final de 2014, quando uma reaparição da Uniclãs no cenário regional reuniu a todos — Cezinha, André e Carlinhos pela parte do Orgânica. E depois tivemos o Cezinha como protagonista de um piloto para o que seria o Retratos, o André na estreia formal desta empreitada de documentação de personagens portobelenses, o Carlinhos logo depois. Por outro lado, também tivemos aparições em iniciativas deles e assim foi.

Exposto o plano, as coisas aconteceram muito rápido. O fato de não aceitarem, ainda que insistíssemos, receber cachê só atesta o bom caráter do trio, sabendo-se o quanto a atividade cultural minguou, desprovida que está da proximidade com seu público.

E assim, mais uma vez, Retratos de Porto Belo e Música Orgânica se alinham na iminência de mais uma parceria. Esta talvez a de maior significado prático. A data está marcada (19 de julho, domingo, às 16 horas) e o objetivo traçado: prover entretenimento em troca da solidariedade de todos nós. Parceiros já estão se alinhando a essa causa e a eles antecipamos o agradecimento.

Mais detalhes virão no correr dos dias, mas, desde já, contamos com o apoio de todos.

Com André na estreia do projeto, em 2015