Noite caindo e eu subia correndo o morro da Estação quando vi a Denise ao lado da casa de seus pais. Pensei um segundo e, num impulso, cruzei a avenida fora da faixa (não façam isso jamais, crianças).

A Denise esperava um técnico da Claro quando a interpelei. Contei rapidamente da nossa tentativa de entrevistar dona Uga, sua mãe que apelidamos, cá entre nós do Retratos de Porto Belo, de “a senhora da cadeira de balanço”.

Sua filha estava a par desse interesse, mas explicou que dona Uga não fica muito à vontade diante da câmera nem gosta de dar entrevistas. Ela própria já havia me dito isso, procurando me despachar o mais rápido possível e seguir para uma consulta ao dentista. Mas disseram-me que a Denise poderia convencê-la do contrário. E a filha me garantiu que tentaria ajudar.

Receber “não” é parte do trabalho. Nem sempre se pode esperar que as pessoas estejam abertas e disponíveis: algumas desconfiam, outras não se sentem confortáveis, são tímidas ou já não têm interesse em serem fustigadas durante duas horas com câmeras, microfones e perguntas.

Só para citar mais um caso, naquela mesma semana, após uma inconclusiva conversa preliminar durante o início do Carnaval, dei uma “incerta” na casa do ex-goleiro Zeca. Chamei-o à porta e retomei o assunto, expliquei a ideia, insisti. Não adiantou. Ele obstinou-se em dizer não, a cabeça um pouco virada de lado e o olhar mirando o alto, como uma criança teimosa a quem tivessem oferecido um prato de sopa.

Por outro lado, há muitos “sins”.

Na mesma manhã em que ouvi a recusa do filho de seu Mané Carias, fiz uma segunda tentativa. Não encontrei seu Zeca no Vulcão, mas dona Téta estava lá. Ela ouviu a proposta com um sorriso enigmático e prometeu que comunicaria ao marido.

Achei que não haveria um retorno positivo, mas encontrei seu José dias mais tarde observando o pessoal que trabalhava na reforma da praça. Ele concordou na hora e, de fato, no sábado seguinte, a entrevista aconteceu (a contragosto de dona Téta, suponho, visto que tentou nos despachar — penso que se preocupava com a imagem do marido: talvez considerasse que seu Zeca não estava devidamente alinhado para uma entrevista em vídeo).

Essas coisas fazem parte do trabalho de um repórter. De nosso lado, cumpre respeitar o desejo daqueles que procuramos, ainda que o coração aperte um pouco a cada oportunidade desperdiçada, pois sabemos que, muitas vezes, não haverá uma segunda chance. Contudo, cada “sim” é um presente que procuramos valorizar e que nos anima a seguir na busca pelo próximo vulto portobelense.